EISUKE OISHI e DENILSON CARIBÉ

0
848

 

 

 

Dos muitos japoneses que desembarcaram no Brasil, EISUKE OISHI certamente já tinha o destino traçado com a história do Karatê baiano. Saiu da cidade de Kioto no Japão, no navio Argentina Maru, desembarcando inicialmente no Estado de São Paulo. Era filho do presidente da Associação Médica de Kioto.

Depois de seis meses morando em São Paulo, Oishi encontrou o amigo Yoichiro Onoka que lhe falou sobre a beleza da Bahia, das praias e do povo, o que o deixou encantado e resolveu vir conhecer a Bahia. Ao chegar aqui, em 1961, com 16 anos de idade, foi morar na casa do mestre Masahiro Saito, que na época trabalhava na Petrobrás, na refinaria de Mataripe.

Conduzido por Kazuo Yoshida, mestre de Judô, que veio para a Bahia por intermédio do mestre Masahiro Saito, Oishi foi apresentado ao Dr. Ângelo Decânio com o objetivo de conseguir um emprego como técnico em laboratório. O sonho dele era estudar medicina e trabalhar com Anatomia Patológica ou Histologia. O Dr. Ângelo Decânio sugeriu que ele aproveitasse o Karatê como fonte de renda para ganhar dinheiro e estudar medicina, ideia inicialmente recusada por Oishi. Não queria ensinar Karatê, porque entendia que essa arte marcial não poderia ser ensinada a qualquer um pelo fato de possuir muitos golpes mortais e por achar que os brasileiros não dispunham da disciplina necessária para entender a sua verdadeira filosofia.

Então preferiu trabalhar como técnico no Hospital Aristides Maltês, no gabinete de Anatomia Patológica do Dr. Lúcio Gomes Filho. Alguns meses depois, Oishi procurou o Dr. Ângelo Decânio e pediu para reconsiderar, porque o dinheiro que estava ganhando no Hospital era muito pouco e ele precisava ganhar um pouco mais.

Depois do pedido de reconsideração, o Dr. Ângelo Decânio, médico cirurgião muito conhecido na Bahia, amante das artes marciais, resolveu apresentar o Eisuki Oishi ao Sr. Walter Andrade, proprietário do Ginásio Acrópole, que aceitou a oferta e propôs que sessenta por cento do valor das mensalidades dos alunos do Karatê seria de Oishi.

Em 1961, levado pelo Dr. Ângelo Decânio, chegava ao Ginásio Acrópole um japonês franzino e com apenas 16 anos de idade. Tratava-se de Eisuke Oishi, que após tratar com o Sr. Walter Andrade, passaria a dar aulas de Karatê para um grupo de 10 pessoas no Ginásio Acrópole.

Com a chegada de Oishi se iniciava a história do Karatê da Bahia, os primeiros praticantes ficaram impressionados com a agilidade de Oishi e todos ficaram muito empolgados até que o professor deixou de comparecer.

Na terceira falta consecutiva Denilson Caribé, um de seus primeiros alunos, procurou saber o que estava acontecendo e soube que Oishi estava doente. Denilson então tomou a decisão de procurar o professor e o encontrou em uma pensão no Bairro da Vitória, cuja proprietária, por atraso no pagamento, já o havia desalojado do seu quarto, colocando-o embaixo de uma escada , em local indigno a qualquer ser humano, considerando a má ventilação e iluminação, umidade e até mesmo odor desagradável. Com febre e há seus dias sem se alimentar, o professor Oishi não tinha a quem recorrer e pouco se comunicar em nosso idioma (falava pouco português).

Ao tomar conhecimento da situação, Denilson não pensou duas vezes e, atendendo a imposição da dona da pensão, liquidou todo o débito existente com algum dinheiro que conseguiu emprestado e, mesmo correndo risco dos pais não aceitarem, levou Oishi para casa, onde o mesmo passou a residir e a receber cuidados médicos.

Após 8 dias e já recuperado, voltaram aos treinos mais intensos. Depois da academia, os dois voltavam para casa, onde o sensei Oishi, recebia aulas de português que a mãe de Denilson que era professora ministrava.

A partir dai fizeram o pacto, Oishi ensinava Karatê a Denilson e este lhe ensinaria português. Algum tempo depois os pais de Denilson se mudaram para o interior e, como Denilson estava iniciando os trabalhos na Petrobrás, alugaram um quarto de hotel no Bairro da Calçada e continuaram morando juntos. As coisas melhoraram até que conseguiram alugar um apartamento na Rua Joaquim Nabuco, no Centro, onde Oishi permaneceu até seu último dia no Brasil em 1966.

Essa convivência foi a maior responsável pelo trabalho desenvolvido no Karatê, pois o ideal de Denilson não era tornar-se um professor e sim treinar bastante para usufruir dos benefícios que o Karatê proporciona, porém o sensei Oishi pediu a Denilson que não deixasse aquela árvore morrer porque sabia que logo daria muitos frutos.

Com a partida de Oishi para o Japão, uma nova fase se iniciava no Karatê da Bahia, três faixas roxas Denilson Caribé, Carlos Alberto e Vilobaldo Moraes Pedreira, ficaram incumbidos de dar continuidade aquele trabalho. Denilson relata que passou a encontrar diversos obstáculos, pois, além de responsável pelos treinamentos dos alunos, deveria se preocupar com a divulgação do Karatê e com a organização que já se fazia necessário, o que obrigava a sacrificar aquilo que ele mais gostava de fazer que era treinar.

Oito anos se passaram e em 1974, e o destino levou Denilson Caribé a encontrar seu mestre e amigo Oishi na sua terá natal o Japão, tendo ficado hospedado na casa de Oishi. Denilson pode dar boas notícias do Karatê ao seu amigo e que já era por mais de uma vez campeão brasileiro de Karatê.

Oishi teve o prazer de ver seu discípulo lutando no Festival Internacional de Karatê de Tóquio e Denilson viu o mestre chorar de alegria em ver como seu discípulo tinha desenvolvido.

Fonte: Livro Denilson Caribé de Castro – Biografia autorizada

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here